Conservar ou reflorestar? Entenda as diferenças entre REDD e ARR no mercado de carbono

Conheça e entenda como esses projetos funcionam e por que a Amazônia precisa de ambos.

A floresta amazônica é protagonista nas discussões sobre clima e carbono. E no centro dessas estratégias estão os projetos de REDD e ARR, dois mecanismos de mitigação ligados a mercados de carbono que, embora compartilhem o objetivo de combater a crise climática, atuam de formas distintas.

A Rioterra trabalha com os dois modelos. Desde 2011 com projetos de REDD em áreas de conservação, como a RESEX Rio Preto Jacundá e com projetos de ARR em sistemas agroflorestais, como os projetos Cacau Amazônia+ e Agro Verde.

Mas, afinal, o que REDD e ARR significam?

O mecanismo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) foi criado para incentivar países em desenvolvimento a reduzirem as emissões de gases de efeito estufa decorrentes do desmatamento e da degradação florestal. Sua lógica é simples: manter a floresta em pé evita que o carbono estocado nas árvores e no solo seja liberado na atmosfera. Projetos de REDD, portanto, evitam emissões.

O REDD+, por sua vez, é uma evolução do conceito original. O “+” representa a incorporação de atividades como a conservação dos estoques de carbono florestal, o manejo sustentável das florestas e o aumento dos estoques de carbono por meio da regeneração ou melhoria do uso da terra. Além disso, o REDD+ exige salvaguardas sociais e ambientais robustas, incluindo a participação plena e efetiva das comunidades locais e povos tradicionais.

“O que torna o REDD+ diferente”, explica Alexis Bastos, coordenador de projetos da Rioterra, “é seu compromisso com as comunidades e modos de vida da floresta.” O mecanismo reconhece explicitamente benefícios sociais, ambientais e econômicos, promovendo a conservação da biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e a valorização do protagonismo de povos e comunidades tradicionais, como é o caso da ASMOREX:

Esses projetos são implementados em áreas sob pressão de desmatamento e incluem ações de monitoramento, gestão territorial, apoio à produção sustentável e fortalecimento comunitário, pilares essenciais para manter a floresta em pé.

O que é ARR?

Já os projetos de ARR (Afforestation, Reforestation and Revegetation – Aflorestamento, Reflorestamento e Revegetação) são voltados para áreas que já foram desmatadas ou degradadas, mas que podem ser recuperadas com o plantio de árvores, seja por meio de sistemas agroflorestais, silvicultura ou restauração ecológica.

Eles são considerados projetos de remoção de carbono, pois capturam CO₂ da atmosfera à medida que as árvores crescem e os sistemas florestais se regeneram. Segundo a metodologia VM0047 da Verra, essas atividades visam restaurar ou ampliar a cobertura vegetal com base em técnicas que possibilitem quantificar a remoção de carbono.

Essa abordagem é essencial para restaurar áreas degradadas, recuperar nascentes, conservar a biodiversidade e promover novas fontes de renda para populações locais.

A mudança do mercado e seus impactos

Nos últimos anos, o mercado voluntário de carbono tem dado preferência aos projetos de ARR, alegando que a remoção de carbono da atmosfera seria mais tangível e verificável. Parte dessa mudança se intensificou após uma matéria publicada pelo The Guardian em janeiro de 2023, que apontou que até 90% dos créditos florestais de REDD emitidos por uma das principais certificadoras do mundo poderiam ser considerados “créditos-fantasma”. Essa crise de credibilidade levou muitos investidores a migrarem para projetos de reflorestamento.

No entanto, especialistas e organizações da Amazônia alertam para o risco dessa lógica.

“Depois da matéria do The Guardian a grande maioria das instituições se voltaram para o mercado de ARR. Hoje  só querem remoção. Ninguém quer mais trabalhar com conservação, ou poucos querem. O que é uma pena, porque quando a gente trabalha com ecologia, primeiro a gente conserva, depois a gente restaura!”

Tanto REDD quanto ARR são necessários. A conservação garante que o carbono já estocado na floresta não seja emitido. A restauração amplia o potencial de sequestro futuro. Ignorar um em favor do outro é limitar as soluções disponíveis, especialmente em territórios como a Amazônia, onde há tanto floresta ameaçada quanto áreas degradadas.

E aí? Agora ficou mais claro o que diferencia conservar de reflorestar? REDD e ARR são caminhos distintos e a Amazônia precisa dos dois.